quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Histórias do Fim da Rua, de Mário Zambujal




Imagine uma cidade, dentro da cidade um bairro, dentro do bairro uma rua com tantos nomes que ninguém conseguiu decorar, e por isso se conformou, simplesmente, como a Rua de Trás. Quem lá mora? Sérgio e Nídia, um casal improvável, em busca do divórcio perfeito; o Ercílio da tabacaria, ex-futebolista desastrado; o Zé Viúvo, que se casou com a tia para lhe ficar com herança, mas que morreu meses depois do matrimónio; o Geraldo Bemposto, tocador de concertina, de bombo ou de tambor; o gato dos Ramires do talho, que torce os bigodes ao peixe por preferir torresmos e chouriço... E muitos mais são os castiços que dão cor à Rua de Trás.
Venha conhecê-los numa biblioteca perto de si.
S.N.

domingo, 14 de junho de 2009

A História Interminável, de Michael Ende


A História Interminável é uma singular fantasia épica com todos os requisitos do género: criaturas fantásticas, paisagens exóticas, florestas sombrias, encantamentos, rituais de cavalaria, espadas e amuletos, uma imperatriz Criança e tudo aquilo que possamos imaginar, visto que Fantasia é o próprio mundo da Imaginação.

Tudo começa quando Bastian descobre um estranho livro numa não menos estranha livraria e se sente subitamente compelido a roubá-lo como se algo de mágico o estivesse a arrastar para uma perigosa aventura. É sobretudo a história de um menino timido que descobre a sua coragem e força interior enquanto vive grandes aventuras num mundo de fantasia.

Uma obra que passou ao grande ecrã como um filme de culto.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O Menino e o Cavalo, de Rupert Isaacson


Rupert Isaacson tinha sonhado o melhor para o filho, imaginava as brincadeiras, as conversas, os passeios… Depois de Rowan nascer, porém, começou a perceber que o seu sonho nunca se iria realizar. O menino não falava, não reagia, refugiava-se no seu mundo, fechado numa concha invisível. Era autista.O Menino e o Cavalo é a história real, extraordinária, de um pai que vai até aos confins do mundo para curar o filho. É a aventura de uma família única, que arrisca tudo, movida por uma fé inabalável. E que, nas distantes estepes da Mongólia, consegue finalmente o milagre de abrir a concha, e entrar no mundo misterioso de Rowan.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A LUA DE JOANA, de MARIA TERESA MAIA GONZALEZ




Ao lermos a A Lua de Joana não podemos deixar de pensar na forma como, muitas vezes, relegamos para segundo plano aquilo que é realmente importante na vida. Porque este livro nos alerta para a importância de estarmos atentos a nós e ao outro, e de sermos capazes de, em conjunto, percorrer um caminho que conduza a uma vida plena.

Pe. Vitor Feytor Pinto



Este livro pode ser considerado uma espécie de diário (apesar de não o ser) porque Joana escreve cartas para uma amiga que já morreu. Conta-lhe todos os acontecimentos do seu dia-a-dia. É interessante ver o desenrolar da vida desta personagem, como ela se transforma ao longo dos dias e dos anos.Apesar de tudo, este livro mostra-nos a realidade dos dias de hoje: o grande flagelo que a droga é para todos - para a família, para os amigos e para a própria pessoa que comete esse erro. Joana é também uma excelente aluna, reconhecida por todos e acarinhada pelos professores e amigos, mas a sua melhor amiga já não faz parte da escola, já não faz parte, da turma, nem partilha a sua mesa nas salas de aula.
No decorrer desta história Joana tenta agir com normalidade apoiando-se sempre na sua avó, sendo esta a sua única conselheira. Este livro age também como alerta aos pais desatentos. Os pais de Joana sentiam nela uma pessoa adulta responsável, logo pensavam que não tinham que se preocupar com ela. Também não eram propriamente presentes, o seu pai é um médico prestigiado, passa a vida fora em reuniões, visitas ao domicilio e raramente está presente , já a sua mãe é dona de um pronto-a-vestir, preocupadíssima com o seu outro filho, irmão de Joana, cuja relação era um tanto ou quanto critica.

Uma história bem real.

domingo, 17 de maio de 2009

O MONTE DOS VENDAVAIS, de Emily Brontë


Esta obra escrita em 1848 é um clássico da literatura universal. Uma história de amor, paixão, vingança e ódio que se desenrola num local ermo, isolado da civilização, e no qual desfila um reduzido número de personagens. É assombrosa a forma como, pegando em tão pouca gente e colocando-a a viver num local tão isolado, Emily Brontë conseguiu fazer um retrato tão perturbantemente fiel da alma humana.

É um livro intemporal, que manter-se-á actual por muito tempo, talvez enquanto existir humanidade, pois ali encontramos todos os sentimentos e emoções humanas, incluindo o mal. De qualquer forma, desengane-se aquele que vem em busca de ódio e maldade puras. Aqui também há amor, os maus também sabem amar. E também há pessoas boas. Não há é pessoas livres de maldade, como também não as há no mundo real.
Conta-se aqui a história de um menino adoptado – Heathcliff – e das injustiças de que foi vítima. Conta-se depois como este menino cresceu e como executou a sua vingança. Há ainda a história de Catherine, a única verdadeira amiga da infância de Heathcliff, e da sua filha, com o mesmo nome. Contam-se as histórias das duas famílias: a do Monte dos Vendavais e a da Herdade dos Tordos. Conta-se, apesar de tudo, uma história de amor.


Um livro que nos prende da primeira à última página.


Este livro foi adaptado para cinema por Peter Kosminski e conta com as fantásticas interpretações de Juliette Binoche e Ralph Fiennes.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

A SIBILA, de Agustina Bessa Luís


A Sibila, romance de 1954, recebido com entusiasmo pela crítica, torna-se o ponto de partida para uma vasta obra voltada simultaneamente para as vertentes do nacionalismo e regionalismo português. Em A Sibila, a autora une o passado e o presente, colocando as dúvidas, as angústias e os problemas mais substanciais das personagens que vivem num espaço agrícola tipicamente regional.
No plano da intriga, trata-se da reconstrução da trajectória da família Teixeira e da sua casa secular que caminha da decadência/ruína ao ressurgimento grandioso/triunfal.
Neste romance denota-se a força feminina, o poder matriarcal, a gestão de mulheres fortes e destemidas, capazes de lutar até às últimas consequências para reaver o seu património.
O romance abrange três gerações de Mulheres. Começa com Maria da Encarnação ainda menina, seu crescimento, o casamento e a vinda dos filhos (quatro), o envelhecimento e a morte. Continua com Joaquina Augusta, a Quina: seu nascimento, crescimento, seus conflitos, sua juventude, amadurecimento, envelhecimento e morte. Finalmente, Germa, filha de Abel, que se vê crescendo, depois de ter iniciado já adulta o romance. Uma intelectual, solteira e independente. Assim inicia o parágrafo final do romance: "Eis Germa, eis a sua vez agora e o tempo de traduzir a voz da sua sibila." A ela, herdeira da Casa da Vessada, cumpre manter e dirigir a fazenda, preservar os costumes. Num sentido proustiano, pode-se dizer que é um romance a respeito do tempo e da memória, que precisa ser resgatada.

domingo, 10 de maio de 2009

VALE ABRAÃO, um livro de Agustina Bessa Luís



Ema vivia no Romesal, em criança. Depois de casar, mudou-se para Vale Abraão. E frequentemente visitava o Vesúvio. Estes são três lugares fundamentais deste romance de Agustina, todos eles situados na região do Douro, algures entre Lamego e a Régua, na margem Sul do rio. Esta margem é estupendamente retratada logo no início da obra.O Romesal, centrando a parte inicial do livro, é uma casa de lavrador vinhateiro, que tem a particularidade de possuir uma varanda voltada para a estrada. A fatalidade associada a esta varanda é uma antecipação do que será a evolução da história e da personagem.

Vale Abraão, a casa de casada de Ema, é uma casa também de lavoura vinhateira, embora mais abastada e testemunho de várias gerações. Da sua janela no Romesal, Ema via Vale Abraão, mas a realidade vista de perto é bem menos interessante do que aquela prometida pela miragem. Já o Vesúvio, casa senhorial junto ao Douro, onde Ema se refugiava da sua vida monótona em Vale Abraão.

No Vesúvio Ema encarnava na Bovarinha. Esta propriedade é apresentada no final do segundo capítulo, e situava-se numa escarpa tenebrosa na margem do rio. Ema apreciava passear-se solitária pelo cais junto à margem do rio, denotando uma certa dose de loucura, premonitória do final dramático da história.

Existe um quarto lugar que importa mencionar, a Casa das Jacas. Este é o lugar em que se dá o ponto de viragem da história, em que Ema se apercebe que há outro mundo, diferente daquele que ela conhecera até então e mais esplendoroso. A Casa das Jacas é também esplendorosa.

Outros locais são referidos ao longo da acção. Um deles é a cidade de Lamego, por nela ter lugar um dos momentos incontornáveis da história, logo no primeiro capítulo. Tendo este facto em conta, poderá ser uma boa ideia sentarmo-nos num dos bancos do jardim da praça central de Lamego, ou numa das suas esplanadas – quem sabe se não teria sido naquela mesma que tudo se passou? - para calmamente ler este capítulo.Mas ao longo do romance assistimos à decadência física e moral de Ema, e das diferentes casas. A prosperidade e nobreza passadas da região, que no início da história ainda se adivinham, são gradualmente substituídas pela degradação e abandono, surgindo referências às recentes casas de emigrantes.

Este é um livro que, de resto, se deve ler com calma, no sossego, num remansoso sossego. Assim, um sítio de eleição poderá ser o alpendre, a sala de estar ou a reentrância da janela de uma das muitas casas de turismo rural da região. É interessante visitar a Quinta do Vesúvio, pois existe realmente e produz vinho. A própria obra faz referência à proprietária original, a que chama a Senhora, e que corresponde a D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha, grande senhora do Douro do século XIX, que aqui gostava de receber visitas.

Vale Abraão conta a história de Ema, personagem de Flaubert, transferida da Normandia do século XIX para o Douro do século XX. Foi escrito com o objectivo de servir de guião para o filme com o mesmo nome realizado por Manoel de Oliveira em 1993.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

ANO AGUSTINA


FANNY OWEN, de Agustina Bessa Luís


Fanny Owen é uma história verídica passada em 1850 entre José Augusto Pinto de Magalhães ( proprietário da quinta do Loureiro, poeta, rapaz triste e desinteressado da vida), Fanny Owen (filha do coronel Owen, auxiliar e conselheiro militar de D. Pedro aquando das lutas liberais) e o próprio Camilo Castelo Branco, com apenas vinte e três anos e , portanto, ainda longe do romancista famoso que viria a ser mais tarde.
Camilo Castelo Branco encontra-se com Fanny (Francisca Owen Pinto de Magalhães, 1830-1854), visitando-a e escrevendo-lhe umas famosas cartas, que mais tarde servirão para destruir a relação de Fanny com o futuro marido José Augusto Pinto de Magalhães. Estes morrerão de "amor", pela tragédia do triângulo de que Camilo faz parte.Agustina Bessa Luís relata magistralmente estes trágicos amores no seu romance Fanny Owen.

Esta obra foi adaptada para o cinema por Manoel de Oliveira sob o título de Francisca.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Encontro com a Morte, de Agatha Christie


Deambulava eu, despreocupado e confiante, pela pacata rua digital – a net – quando surgiu aquela necessidade…foi de tal modo intensa que apenas me lembro de desvairadamente correr para o meu aposento, sem nada ouvir nem nada sentir, despido de pensamento e de vontade…eis que a névoa se dissipou, pois consegui empunhar a tempo o alvo da minha ânsia – UM LIVRO…e era um clássico, como não podia deixar de ser (espero que não tenham pensado ser outra coisa…).
Para diminuir o ritmo até agora tomado, digo-vos que o que me valeu naquele momento foi a pérola dos livros policiais do século XX – le crème de la creme da melhor escritora do crime de que temos memória: Encontro com a Morte, de Agatha Christie. Nenhum outro livro é capaz de aliar um suspense sufocante, uma tragédia familiar, um detective com um bigode bastante atraente e um clima de terror em Terras Santas (sim, parece que se passou numa viagem à Palestina – o que vem mesmo a calhar com a época dos coelhos e dos ovos). Não me perguntem como consegui obter este espécime literário raríssimo que retrata de forma incisiva o génio da autora alemã que consegue iludir o leitor no enredo dramático adjacente à morte de uma mulher americana, tirana e detestada por todos os membros da família.
É mesmo ler para crer…e…é verdade, não leiam o fim, porque senão o livro perde a graça e podem acontecer coisas más também. Boa continuação de ano lectivo para o pessoal e divirtam-se com mais um livro do famosíssimo Mr.Poirot e, sublinho, com o seu bigode que se mete e triunfa em todas as situações.
Pedro Oliveira, 11ºA

sexta-feira, 17 de abril de 2009

FELIZMENTE HÁ LUAR, de Luís de Sttau Monteiro


Trata-se de um drama narrativo, dentro dos princípios do teatro épico, que faz a “trágica apoteose” do movimento liberal oitocentista em Portugal. O protagonista, apesar de nunca aparecer em cena, representa a esperança do povo, das perseguições dos governadores e da revolta impotente da sua mulher e dos seus amigos. Amado por uns, é odiado por outros que temem perder o poder. Gomes Freire é acusado de chefe da revolta, de estrangeirado e grão – mestre da Maçonaria, por ser um soldado brilhante e idolatrado pelo povo. Os governantes: Miguel Forjaz, Beresford e Principal Sousa perseguem, prendem e mandam executar o General e os restantes conspiradores através da morte na fogueira para eles, aquela execução, à noite, constituía uma forma de aviso e de dissuasão de outros revoltosos. Para Matilde Melo, a mulher do General, e para mais pessoas era uma luz a seguir na luta pela liberdade. Na evocação da figura do General, há a ânsia de liberdade e a luta pela justiça contra os opressores. Sttau Monteiro recorre a um exemplo da História portuguesa, para denunciar a ditadura fascista, a violência, as perseguições e a opressão que se vivia nos anos sessenta do século XX – época em que foi escrita esta obra.

Felizmente há Luar recupera acontecimentos do início do século XIX, para denunciar a situação social e política do país nos anos 60. As personagens psicologicamente densas e vivas, os comentários irónicos e mordazes, a denúncia da hipocrisia da sociedade e a defesa intransigente da justiça social são características marcantes na sua obra. A peça foi suprimida pela censura da ditadura. Foi, pela primeira vez representada em Paris em 1969 e só chegaria aos palcos portugueses em 1978, no Teatro Nacional.
in pt.shvoong.com/books/1783923-felizmente-há-luar

segunda-feira, 13 de abril de 2009

DIVISADERO, de Michael Ondaatje


O romance inicia no Norte da Califórnia, no ano de 1970, com um pai e as duas filhas gémeas, Anna e Claire. Anna, de 16 anos, vive em harmonia com a sua irmã gémea "adoptada" e com Coop, de 20 anos, rapaz que trata da quinta e dos cavalos do pai. Anna e o pai carregam a tristeza da morte da mãe aquando do nascimento de Anna.

A existência desta improvisada família é destruída por um violento incidente - físico e emocional - que abalará as suas vidas para sempre.

Divisadero transporta-nos da cidade de San Francisco para os casinos de Nevada e para as paisagens campestres do Sul de França. É aqui que Anna mergulha na vida de um escritor de uma época anterior ¿ Lucien Segura. A história da sua vida, que ocorre na passagem para o séc. XX, acaba por ter bastantes pontos de contacto com a de Anna, uma vida que ela deixou para trás mas que nunca conseguirá verdadeiramente esquecer.

Divisadero é um romance de paixão, perda, de um passado presente, das discórdias permanentes entre familiares, amor e saudade. Para muitos, é o mais intimista e bonito romance de Ondaatje até à data. Segue a busca de lugares e ligações que dêem sentido ao mundo tão peculiar na escrita de Ondaatje.


Divisadero venceu o Governor General's Literary Award 2007.



quarta-feira, 8 de abril de 2009

A SOLIDÃO DOS NÚMEROS PRIMOS, de Paolo Giordano


Alice é uma criança que faz esqui porque o pai a obriga, mas a verdade é que ela detesta esquiar. Numa das aulas, parte uma perna e fica coxa, o que marca a sua personalidade para toda a vida. Mattia tem a mesma idade que Alice, e uma irmã, Michela, com problemas mentais. Quando recebe o primeiro convite para uma festa, Mattia abandona a irmã num banco de jardim e pede-lhe que espere por ele. Porém, quando volta, o rapaz descobre que a irmã desapareceu. Duas crianças cujos destinos se cruzam, e acabam por partilhar uma existência paralela e inseparável, tal como os números primos gémeos.


Paolo Giordano nasceu em Turim, em 1982 , e licenciou-se em Física. O autor visitou recentemente o nosso país para promover A Solidão dos Números Primos, o seu primeiro romance, que arrecadou o Prémio Strega 2008 e a menção honrosa do Campiello, as duas distinções literárias mais importantes de Itália.

domingo, 5 de abril de 2009

Uma Casa na Irlanda, de Maeve Binchy


Sinopse
"Ria e Marylin não se conhecem – vivem a milhares de quilómetros de distância, separadas pelo oceano Atlântico: um numa grande e acolhedora casa vitoriana em Tara Road, Dublin, a outra numa casa moderna em Nova Inglaterra. Seria difícil encontrar duas mulheres mais diferentes; a vida de Ria centra-se na sua família e nos seus amigos, enquanto a de Marylin conheceu muito sofrimento. Mas quando cada uma delas precisa de sair do ambiente que as rodeia, uma troca de casas parece ser a solução ideal. Juntamente com as casa emprestadas surgem os vizinhos e os amigos, os mexericos e as especulações quando Ria e Marylin trocam de casas durante o Verão."
Descrição da editora
Uma Casa na Irlanda (Tara Road) foi adaptado ao cinema em 2005 num filme realizado por Gilles MacKinnon, com Andie MacDowell, Olivia Williams, Stephen Rea e Brenda Fricker.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Escrito na minha pele, de Nafisa Haji


Sinopse

"Um livro lírico e tocante sobre o significado da família, da tradição e dos laços que unem as pessoas, apesar da distância e das diferenças culturais. É a história de uma jovem muçulmana perante uma escolha difícil entre as forças do seu passado – a sua religião, as suas raízes, a sua cultura – e o seu espírito independente e rebelde.Traduzido e editado em mais de uma dezena de países. "

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A ESTRELA DOS DESEJOS - UMA EXCELENTE OPÇÃO PARA O DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL




No dia 2 de Abril, comemora-se o DIA INTERNACIONAL DO LIVRO INFANTIL. É sempre oportuno relembrar a importância da leitura na infância: Ler estimula intelectualmente a criança, contribui para o alargamento do vocabulário e domínio do real. Ler desenvolve a imaginação e a criatividade, ajuda a resolver problemas... Ler transforma os sonhos em realidade... Ler ajuda a crescer!
Deixamos-lhe a sugestão de uma excelente história infantil para assinalar esta data:
A ESTRELA DOS DESEJOS, texto de M. Christina Butler e ilustração de Frank Endersby

SINOPSE
O Ratinho Cinzento e o Ratinho Castanho são os melhores amigos do mundo; estão sempre juntos e partilham tudo entre eles. Certa noite, vêem uma Estrela dos Desejos muito cintilante a cair na direcção do lago. Os dois amigos apressam-se, rio abaixo, para a encontrar. Mas há um grande, grande problema: há apenas uma estrela, e ambos os ratinhos querem pedir um desejo . . .
Uma história especial sobre a amizade e a importância de partilhar. “Um presente ideal pela sua enternecedora mensagem de amizade. Obrigatório em qualquer estante!” – The Good Book Guide

domingo, 29 de março de 2009

A Ilha na Rua dos Pássaros, de Uri Orlev



Sinopse:


A Segunda Guerra Mundial está em curso. Os tempos são difíceis na Polónia, especialmente para os judeus. Alex é judeu e tem onze anos. Quando a sua mãe desaparece e o pai é “seleccionado” pelo exército alemão para ir para um destino desconhecido, Alex, completamente sozinho, é obrigado a refugiar-se num edifício abandonado na Rua dos Pássaros onde vai aguentar um Inverno. Pacientemente, sem pressas, Alex vai sobrevivendo, enquanto espera o regresso do pai. Por um nicho de luz, Alez consegue vislumbrar os escombros, a degradação e miséria total a que aquela terra, outrora tão apetecível, foi votada.
Coragem e valentia não são excepcionais em tempo de guerra, mas Alex só tem 11 anos e a sua história é, na verdade, sobre o desejo de alguém vencer a crueldade e a injustiça.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Romance das Ilhas Encantadas, um dos livros postos à prova na Fase Distrital do CNL


Em tempos que já lá vão um nigromante, isto é, um homem que conhecia as artes mágicas, encantou as ilhas do grande mar Oceano. Só as mulheres marinhas (ou, por outro nome, as ondinas), que eram filhas do mar e conheciam todos os seus segredos, sabiam o paradeiro certo. E eram elas que as protegiam dos estranhos, sobretudo dos moiros, desviando navios e espalhando nevoeiros para as ocultar. O porquê desse encanto e a gesta dos marinheiros que o ousaram desfazer constitui o cerne desta história maravilhosa que o grande escritor Jaime Cortesão quis legar aos mais jovens.

Jaime Zuzarte Cortesão (1884-1960) foi um dos principais mentores de «Renascença Portuguesa». Poeta de grande valor — ombreou com Teixeira de Pascoaes — legou-nos também uma obra importantíssima no domínio da História de Portugal.


Neste livro "Jaime Cortesão combina a componente histórica com a maravilhosa, criando uma narrativa de aparência lendária, associada à descoberta das ilhas dos Açores e da Madeira.
A presença de alusões a personagens referenciais e a factos históricos, como é o caso da reconquista cristã, de D. Afonso Henriques, do conde D. Henrique e dos «descobrimentos» portugueses, não inibe o seu cruzamento com uma certa ideia mítica acerca da génese da identidade nacional portuguesa, conotada com uma dimensão atlântica e marinheira dos portugueses que a narrativa recupera. A filiação marinha (e maravilhosa) do povo português explica o seu destino atlântico e descobridor e justifica, deste modo, o seu passado e o seu presente. As ilustrações são igualmente interessantes. As aguarelas que pontuam o texto dão conta da ambiência marinha e até da dimensão épica da intriga, valorizando ambientes e heróis."

adaptado de A Casa da Leitura

segunda-feira, 23 de março de 2009

A Corte do Norte, de Agustina Bessa-Luís


Este ano assinala-se o ‘Ano Agustina', uma iniciativa da Guimarães Editores, apoiada pelo Instituto Camões (IC), para assinalar a publicação da Opera Omnia de Agustina Bessa-Luís e o 55º aniversário da 1ª edição de A Sibila.


A Corte do Norte, de João Botelho, é o filme estreado em 19 de Março que adapta para o cinema o romance histórico homónimo de Agustina Bessa-Luís.


Sinopse do livro A Corte do Norte

A Corte do Norte é um dos mais belos e enigmáticos romances de Agustina Bessa-Luís. Para isso contam não só o talento eterno e o altíssimo momento da autora na época (1987), mas também o cenário (a Madeira) e um enredo pós-romântico de traições, paixões e desacertos. A história de cinco gerações de mulheres, a partir de Rosalina de Souza, mulher de temperamento forte e decidido, ex-actriz e prostituta (na época eram sinónimos), que em 1860 abandonou o marido, os filhos e o título de baronesa de Madalena no Mar, indo refugiar-se na Corte do Norte, e deixando à família o mistério sobre o seu destino. Em 1960, Rosamund, trineta de Rosalina, decide reconstruir a história de sua família e tenta desvendar o mistério sobre o que aconteceu com a trisavó.


“...é um tratado de livres caudais do engenho e da arte de escrever. A imaginação, como as levadas na Ilha da Madeira, salta por todas as fragas e produz lagos e cataratas. Nada a prende e tudo a modela. Ler Agustina Bessa-Luís é, neste caso, um exercício de colaboração na escrita. Porque o leitor participa no que inventa e no que deduz, e o romance resulta do que todos argumentam e podem supor.”
A Editora

sábado, 21 de março de 2009

Poemas de Deus e do Diabo, de José Régio


José Régio é o pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira. Em 1927, juntamente com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, fundou a revista "Presença" e iniciou um movimento que viria a marcar profundamente a literatura portuguesa, constituindo uma espécie de 2º modernismo.
A sua estreia literária data de 1925, altura em que publicou a sua obra mais conhecida Poemas de Deus e do Diabo. Nessa obra é muito perceptível uma tendência introspectiva, procurando apreender poeticamente as contradições psicológicas do ser humano, permanentemente dividido entre o bem e o mal. Mergulhado nesse conflito interior, o homem aparece sempre como um ser inacabado, imperfeito, permanentemente dividido...


CÂNTICO NEGRO

Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...


Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio in Poemas de Deus e do Diabo

segunda-feira, 16 de março de 2009

DIA MUNDIAL DA POESIA - 21 de Março


Leio-te

Leio-te
Agora sei que era a tua voz que me seguia
pelas esplanadas de cio
sem palavras
A voz do tempo onde
o silêncio se sente como agulhas
picando os lábios
lentas lâminas
cercando as tardes
e a fome
sempre a fome da tua poesia
o corpo subtil da palavra
pele impossível
desta manhã que arranco à alma das paredes
Leio-te
como quem segue o voo de um pássaro
em nuvens que não sabe
Talvez o quase imponderável
seja o grito claro de sílabas
voando inclinadas de encontro às bocas
Ler-te
é pois colocar dedos neste silêncio
ávido de poemas solares
páginas intermináveis
abissais
como o centro da terra
onde funda a sua lava o canto do lume
em sonetos que o vesúvio grita

João Martim 21 de Março de 2004

domingo, 15 de março de 2009

Uma Casa na Escuridão, de José Luís Peixoto


Sinopse

"A casa vive um mês por ano na escuridão. O escritor está fechado na casa, no seu mundo.A escrita e a mulher amada brotam de um único lugar onírico, luminoso. Na casa vivem também uma mãe embrutecida pela dor, uma escrava silenciosa, uma multidão de gatos que se apropriam do espaço e dos humanos que o habitam.
O mundo fora da casa é um país que vive na impassibilidade das regras estabelecidas, arrastado pela inércia, depurado pelas prisões, embalado pela literatura. Mas eis que chegam os invasores e, com eles, a escuridão absurda que a barbárie daquela civilização já não sabe como encarar nem combater. A casa transforma-se então num asilo de seres mutilados, violados, brutalizados quotidianamente. Mas é também, ainda, um jardim: um jardim de infância dos filhos dos invasores.
Amputado na sua capacidade de escrever, sonhar e amar, o escritor é salvo da morte em vida apenas pela força amorosa das crianças, transportado para o absoluto pelo manto unificador da podridão que se abate sobre todos os humanos, invasores e invadidos.
Podendo ser lido como uma magistral alegoria do fim de uma civilização que é, sem dúvida, a nossa ou como uma denúncia, violenta na sua doçura, da barbárie que nos submerge sem que nos demos verdadeiramente conta, Uma Casa na Escuridão é um romance onde José Luís Peixoto consegue um equilíbrio miraculoso entre o pensamento do negrume que nos ameaça enquanto espécie e o júbilo de ternura que nos resgata e que resgata, sempre, a escrita do autor para um espaço verdadeiramente intocado e novo."

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Soma dos Dias, de Isabel Allende


SINOPSE


"Entre a memória e a autobiografia, A Soma dos Dias começa quando a família de Isabel Allende se reúne para a triste cerimónia de espalhar as cinzas de Paula, protagonista de um dos mais famosos livros da autora…
Uma obra emotiva e escrita no tom irónico e apaixonado que caracteriza a autora, na qual nos entrega a soma dos seus dias como mulher e como escritora.
Nas páginas deste livro, Isabel Allende narra com franqueza a história recente da sua vida e a da sua peculiar família na Califórnia, numa casa aberta, cheia de gente e de personagens literários, e protegida por um espírito: filhas perdidas, netos e livros que nascem, êxitos e sofrimento, uma viagem ao mundo dos vícios e outras a lugares remotos do mundo em busca de inspiração, juntamente com divórcios, encontros, amores, separações, crises matrimoniais e reconciliações.Também é uma história de amor entre um homem e uma mulher maduros, que ultrapassaram juntos muitos obstáculos sem perderem a paixão nem o humor, e de uma família moderna, desgarrada por conflitos e unida, apesar de tudo, pelo carinho e a decisão de continuar em frente. Esta é a família que descobrimos em Paula e que descende dos personagens de A Casa dos Espíritos."

terça-feira, 10 de março de 2009

Paula, de Isabel Allende


Este livro é o testemunho contado na primeira pessoa sobre a morte de uma filha. Como se de uma viagem ao sofrimento humano se tratasse, o livro percorre também a vida da escritora, entrecortada por alegrias e tristezas, acontecimentos que fizeram história, personagens diversas, amores e desilusões.
Isabel Allende garante que esta obra não é sobre a morte. "O meu livro Paula é uma memória trágica da história da morte de uma jovem rapariga, mas sobretudo uma celebração da vida. (...) A sua longa agonia deu-me a oportunidade única de rever o meu passado." Com efeito, embora Paula tenha como ponto de partida e fio condutor a doença da filha da escritora, o livro vai-se transformando num autêntico documento autobiográfico, à medida que Isabel Allende faz desfilar as figuras e os acontecimentos que intervieram na sua vida. Não se trata de uma mera obra auto-complacente, portanto.
Como afirma a escritora, o romance serviu de veículo para prolongar a presença da filha junto da mãe, para manter a vida que já a tinha abandonado desde o momento em que deu entrada no hospital, mergulhando num coma profundo. Para Isabel Allende, a escrita funcionou aqui como um elemento catártico, a salvação para a mais profunda das agonias, fixando no papel as memórias e as recordações, para que o tempo não as apagasse irreversivelmente.


Excertos


"Silêncio antes de nascer, silêncio depois da morte, a vida é um mero ruído entre dois insondáveis silêncios."


"Os filhos, como os livros, são viagens ao interior de nós próprios, nas quais o corpo, a mente e a alma mudam de direcção, regressam ao próprio centro de existência."


"A mente selecciona, exagera, atraiçoa, os acontecimentos esfumam-se, as pessoas esquecem-se e, no fim, resta apenas o trajecto da alma, esses escassos momentos de revelação do espírito. Não interessa o que me aconteceu, mas sim as cicatrizes que me marcam e distinguem."



domingo, 8 de março de 2009

CALÇADA DE CARRICHE - uma sentida homenagem à mulher





Luísa sobe
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.


Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.


Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
António Gedeão, in 'Teatro do Mundo'


sexta-feira, 6 de março de 2009

DIA DA MULHER


Poema Melancólico a não sei que Mulher

Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...


Miguel Torga, in 'Diário VII'

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Priorado do CIFRÃO, de João Aguiar


Sinopse

"Em Londres, na sala do Museu Britânico onde está exposto o Estandarte de Ur, foi encontrado morto Sir Alastair Hopkins-Smith, um conhecido académico inglês. O corpo estava numa estranha posição, com o polegar da mão direita metido na boca, como se estivesse a chuchar no dedo.Paralelamente, há outras ocorrências: o desaparecimento misterioso, na Áustria, de outro académico, o Prof. Heinrich Loewe; e a morte, num acidente de viação suspeito, de um escritor português, Alfredo Estria, um velhote excêntrico que escreve e publica obras de cunho esotérico.Há algo de comum nos três homens: todos eles se preparavam para atacar violentamente um livro que acaba de ser lançado nos Estados Unidos e promete ser um êxito mundial, o romance The Caravaggio Papers, de Ben Browning, que, através de um suspense bem urdido, passa a mensagem de que, na sua origem, a doutrina cristã era de tipo orgiástico…The Caravaggio Papers foi publicado por um grande grupo editorial de origem americana, a Thoth International, que detém uma editora portuguesa, a Codex 3, onde trabalha Miguel, o jovem protagonista deste romance.

E mais não se pode dizer… Quem leu estas linhas já certamente percebeu que O Priorado do Cifrão é uma (excelente) charge a realidades que todos nós conhecemos e que têm hoje em Portugal uma inesperada actualidade.

Ridendo castigat mores - terá dito para si próprio João Aguiar, que certamente se divertiu a escrever este livro tanto como todos nós nos divertimos ao lê-lo."

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Cemitério de pianos, de José Luís Peixoto


Sinopse
"Numa Lisboa sem tempo, entre Benfica e o centro, nascem, vivem, sonham, amam, casam, trabalham e morrem as personagens deste livro. No ventre de uma oficina de carpintaria aninha-se o cemitério de pianos, instrumentos cujo mecanismo, à semelhança dos seres que os rodeiam, não está morto, encontrando-se antes suspenso entre vidas. Exílio voluntário onde se reflecte, se faz amor, lugar de leituras clandestinas, espaço recatado de adúlteros, pátio de brincadeiras infantis e confessionário de mortos, é o espaço onde se encadeiam gerações.
Os narradores – pai e filho –, em tempos diferentes, que se sobrepõem por vezes, desvendam a história da família, numa linguagem intercalada de sombras e luz, de silêncio e riso, de medo e esperança, de culpa e perdão. Contam-nos histórias de amor, urgentes e inevitáveis, pungentes, nas quais se lê abandono, violência doméstica e faltas nem sempre redimidas que, no entanto, acabam por ser resgatadas pelo poder esmagador da ternura e dos afectos. Falam-nos de morte, não para indicar o fim, mas a renovação, o elo entre as gerações e a continuação: o pai – relação entre dois Franciscos, iguais no nome e no destino, por um gerado, do outro genitor – nasce no dia da morte desse primeiro Lázaro; o filho, neto do seu homónimo, morre no dia em que a sua mulher dá à luz.
Com uma fluência extraordinária e um travo a poesia que sacia os que lêem também pelo prazer das palavras, este é um livro para nunca mais esquecer."

Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto
Bertrand Editora 2006.


Excertos

"À procura, procura o vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra.Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a minha força é imortal".


"...nem sequer é impossível. A verdade como o silêncio, existe apenas onde não estou. O silêncio existe por trás das palavras que se animam no meu interior, que se combatem, se destroem e que, nessa luta, abrem rasgões de sangue dentro de mim. Quando paro de pensar e me fixo, por exemplo, nas ruínas de uma casa, há vento que agita as pedras abandonadas desse lugar, há vento que traz sons distantes e, então, o silêncio existe nos meus pensamentos. Intocado e intocável. Quando volto aos meus pensamentos, o silêncio regressa a essa casa morta. É também aí, nessa ausência de mim, que existe a verdade."

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Platero e Eu, de Juan Ramón Jiménez


Platero e Eu é um magnífico poema em prosa, em que Juan Ramón Jiménez (Prémio Nobel de Literatura, em 1956) descreve o ambiente e a vida da gente simples da sua pequena aldeia andalusa, e também a afeição que o une ao burrito Platero, que umas vezes lhe serve de confidente, e outras é o verdadeiro sujeito da acção. Ambos, jovem e burro, percorrem as ruas da aldeia e os campos em seu redor, trocando impressões e imaginando aventuras, ou cruzando-se com alguns dos seus conterrâneos (a filha do carvoeiro que entoa uma canção de embalar, os meninos pobres que brincam, o padeiro que vai entregar o pão ao meio-dia, etc.). Servido por uma tradução de José Bento, e pelas magníficas ilustrações de Bernardo Marques, Platero e Eu é um livro que ficará para sempre no coração dos leitores.


"Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro.Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas... Chamo-o docemente: «Platero», e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal...Come o que lhe dou. Gosta das tangerinas, das uvas moscatéis, todas de âmbar, dos figos roxos, com sua cristalina gotita de mel...E terno e mimoso como um menino, como uma menina...; mas forte e seco como de pedra. Quando nele passo, aos domingos, pelas últimas ruelas da aldeia, os camponeses, vestidos de lavado e vagarosos, param a olhá-lo:— Tem aço...Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo."


Juan Ramón Jiménez, Platero e Eu, Editora Livros do Brasil, 2003

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Dia Em Que Sócrates Vestiu Jeans, de Lucy Eyre


Um inteligente e divertido romance que nos mostra como a filosofia pode mudar as nossas vidas para melhor.
Ben Warner, um típico adolescente a passar umas férias de Verão enfadonhas, surpreende-se quando Lila, uma mulher jovem e atraente, lhe faz um bizarro convite. Embora tentado, Ben sente-se inseguro. E tem razões para isso!... Lila quer levá-lo para o Mundo das Ideias, um lugar completamente desconhecido para Ben. Mas Lila tem uma missão. O seu chefe, Sócrates, presidente do Mundo das Ideias — cargo que mantém há 1209 anos — fez uma aposta com o seu arqui-rival Wittgenstein. Para a ganhar e manter o seu cargo, Sócrates terá de fazer crer a Ben que a filosofia pode melhorar a sua vida. Desconhecendo o que lhe vai acontecer, Ben entra num inesperado mundo paralelo. E assim começa a sua viagem mental à volta das grandes e pequenas questões da vida. O que é a felicidade? A morte é o que de pior nos pode acontecer? Teremos vontade própria? E, a pouco e pouco, Ben começa a interrogar-se sobre as mais variadas questões e a acreditar que a vida é muito mais do que um jogo de futebol. Excêntrico, divertido e original, O Dia em Que Sócrates Vestiu Jeans é a história de um jovem que escapa da sua vida entediante para um excitante mundo paralelo e desperta para a real importância da vida através da aprendizagem dos conceitos básicos da filosofia.



Comentário de Pedro Oliveira, do 11ºA
"Asseguro-vos que encontrarão neste livro muitas formas de encarar o mundo que nos rodeia ou que talvez tenhamos sido nós a criá-lo. O livro conta a história de um rapaz que se deixou apaixonar pela filosofia e que passou a adoptá-la correctamente no mundo em que vive, questionando-se sobre o que nunca pensou duvidar e criticando racionalmente os problemas éticos da vida humana. O garanhão da história é um rapazito chamado Ben que, com a ajuda da filosofia, consegue arranjar uma miúda que, pela descrição, é muita razoável; e, se não fosse o Sócrates, nada disto tinha acontecido (não, não é o Sócrates do Freeport, mas sim um dos maiores filósofos de que se tem memória – também nos iremos recordar do outro se calhar).
Para não arranjarem a hipótese de que vos estou a impingir umas meras folhinhas, tomei a liberdade de questionar algumas pessoas que já leram (nem que sejam uma meras páginas, mas que conseguem fazer uma crítica consistente) para vos deleitar com a prosa filosófica que vos apresentei:
· Dr. Romão - é um livro muito bom, agradeço à Prof. Gina por nos ler (apesar de nunca mais o termos feito...) e quem me dera ir ao paraíso dos filósofos (o Dr. Romão mudou de opinião após ter lido o que escreveu).
· Dr. Cunha - o livro ensina-nos a ver o mundo de um ponto de vista alternativo.
· Dr. Perdigão - quem não gostaria de saber como seria o mundo dos filósofos antigamente? Mesmo que não queiram saber aconselho-vos a leitura do livro.
· Dr. Golovca - agora estou a tratar dos vírus, não tenho tempo para comentários.
· Dra. Alves - o senhor Sócrates é um homem à maneira, todo virado prá "frentex" (veste jeans e tudo) e embora argumente muito sobre assuntos muitas vezes desinteressantes, com o objectivo de nos pôr a pensar (o que, sejamos sinceros, nem sempre acontece) parece ser boa pessoa.
· Dr. Pinhão - posso dizer k é um livro divertido e original que tem como objectivo mostrar aos jovens que a filosofia até pode melhorar as suas vidas.
· Dra. Paixão - Preferia o Dia em que o Sócrates vestiu Kilt, enquadrava melhor na sua longa barba cheia de sabedoria.


PS: Um muito obrigado a todos os doutores e falsos doutores e à Prof. Gina, sem a qual isto não teria sido possível.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Já não se escrevem cartas de Amor, de Mário Zambujal


«A certa altura, decidi que não poderia passar a noite parado como um legume, apelei à pouca coragem e disse para mim próprio: “Seja o que Deus e ela quiserem.” Avancei lesto para a mesa de Erika e, lá chegado, tomou-me uma sensação de fracasso inevitável, mesmo de ridículo. Balbuciei por fim: - A menina não quer dançar comigo, pois não?»


Duarte é um jovem bon vivant, que, entre as noites glamorosas passadas no Grande Casino Internacional do Estoril, as tardes de café no Chave D’Ouro, no Palladium ou no Martinho do Rossio e a vida boémia nas boîtes da capital, vê o seu coração ser arrebatado por uma jovem alta, esguia, loura e de sorriso luminoso, de nome Erika.

Mário Zambujal transporta-nos, nesta novela de prosa clara e original, pautada de humor, imaginação e sensibilidade, numa viagem de imagens e memórias, à Lisboa dos anos 50. Uma época de apetites e excessos. De paixões e desventuras. Era um tempo em que havia tempo. Até se escreviam cartas de amor.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Nem tudo começa com um beijo, de Jorge Araújo e Pedro Silva Pereira


Nem tudo começa com um beijo começa com um segredo que só mais tarde será revelado: “Gelatina aprendeu, por experiência própria, que o remorso ataca sobretudo à noite.” Gelatina (a personagem) esconde o seu segredo para proteger outra pessoa, e Fio Maravilha encontra o amor junto da Nuvem Maria.
Sim, os nomes não são os mais comuns, de todo. Temos o/a Gelatina, Bisnaga, Fio Maravilha, Molécula, Armando Pantera, Domingo, Nuvem Maria e mais.
Este livro apresenta “o mundo como sendo uma casa, que tem Cave e Sótão. A Cave são os buracos do esgoto que servem de tectos…aos meninos que não têm para onde ir. No Sótão fica a cidade. Nele vivem as pessoas que se cruzam nos elevadores, dizem ‘bom dia’ e ‘boa tarde’ mas não se conhecem.”.
Pelo meio mas talvez o mais importante, deparamo-nos com uma bela história de amor, daquelas que hoje já não encontramos. Uma história que não começa com um beijo mas com desenhos colocados debaixo de uma pedra sobre um banco à espera de uns cabelos loiros. “Os desenhos sempre acompanhados de um pensamento, de uma confissão. De uma declaração de amor.
O facto de a narrativa ser protagonizada por crianças e jovens em situação de risco num cenário desrealizante sublinham a importância do amor e dos afectos na vida humana.
O livro constitui uma leitura surpreendentemente cativante, capaz de prender o leitor até à última página.

Jorge Araújo e Pedro Silva Pereira foram autores galardoados com o prémio literatura Gulbenkian em 2003, com o livro Comandante Hussi.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Inês de Portugal, de João Aguiar


Castelo de Santarém, num dia do ano de Cristo de 1359. Enquanto el-rei D. Pedro I corre a caça pelos campos, os seus conselheiros Álvaro Pais e João Afonso Tello esperam com sombria ansiedade a chegada de dois prisioneiros, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, dois dos «matadores»de Inês de Castro (o terceiro, Diogo Lopes Pacheco, logrou fugir e refugiou-se em França). A esses homens havia sido solenemente prometido perdão, mas o rei, decidido a vingar a única mulher que amou, quebrou o juramento feito, e agora eles vêm, debaixo de ferros, a caminho de Santarém.É este o ponto de partida de Inês de Portugal. Mas ao longo das suas páginas é toda a história de Pedro e Inês que João Aguiar reconstrói.


É pela voz de Álvaro Pais e João Afonso Tello que João Aguiar conta esta bem conhecida história do desenlace trágico dos amores de Pedro e Inês de Castro, a bela dama galega "que despois de ser morta foi Rainha", como cantou Camões.


"As recordações excitam-no, fazem-lhe subir o sangue mais depressa à cabeça, como se para lá se tivesse mudado o coração. Assim foi, assim foi, porém hoje D. Afonso já não reina em Portugal e as bestas-feras jazem na masmorra à minha mercê e haverá de novo justiça, porque um rei-fantasma a fará, sobre grandes e pequenos, ricos e pobres. Sobre os vivos e também os mortos. Roubaram-te de mim, Inês, mas não sabiam que assim mesmo te punham para sempre em mim. Para sempre, até ao fim do mundo."


in Inês de Portugal

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A vida nas palavras de Inês Tavares, de Alice Vieira


Que fazer quando se tem 13 anos, se pediu um i-pod pelo Natal e se recebe um diário? Aqui se relata - pelas palavras da própria - um ano da vida de Inês Tavares, com as suas melhores amigas (e dois amigos, porque os rapazes fazem sempre jeito para levar às festas...) e as suas grandes paixões: o chocolate e o Brad Pitt. Para além da paz no mundo, evidentemente.


Num estilo a que, desde o memorável Rosa, minha irmã Rosa (1979), Alice Vieira nos tem habituado, esta narrativa juvenil coloca, uma vez mais, em primeiro plano a voz e a vida interior de uma adolescente de 13 anos. Uma percepção singular do real, encarado ora com leveza, ora com seriedade, ora com humor, as vivências escolares e a família, com os seus membros “especiais à sua medida”, alimentam esta narrativa, que evidencia uma configuração autobiográfica e é composta a partir dos modelos ficcionais do diário (como, aliás, faz prever o divertido segmento subtitular “Diário de quem só quer a paz no mundo e o Brad Pitt”). As referências a elementos que caracterizam o nosso tempo (por exemplo, o “Simplex”) e que dominam o mundo dos adolescentes (por exemplo, a influência das séries televisivas) multiplicam-se e reforçam quer a componente humorística do discurso, decorrente, por vezes, de um certo tom caricatural, quer uma perspicaz crítica social.


in Casa da Leitura



terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Ilha, de Victoria Hislop


Numa altura em que a sua vida estava dominada por um dilema, Alexis Fielding sentia-se mais determinada do que nunca a levantar o véu de mistério que sempre encobriu o passado da sua mãe, Sofia. Alexis sabia apenas que Sofia tinha sido criada numa aldeia de Creta. Decidiu, então, fazer uma viagem até às ilhas gregas e, para sua surpresa, Sofia achou que estava na altura de ela saber mais acerca do passado. Antes de Alexis partir para a sua viagem, Sofia deu à filha uma carta para entregar a uma velha amiga, Fotini, e prometeu-lhe que através dela ficaria a saber muito mais...
Quando encontrou Fotini, Alexis ficou finalmente a conhecer a história que Sofia escondera toda a vida: a história de uma família dilacerada pela tragédia, pela guerra e pela paixão. Alexis descobre que está intimamente ligada a Spinalónga (uma ilha grega) e que o passado poderá ajudá-la a resolver o futuro...

Esse romance de vidas e paixões intensas desdobra-se no cenário do Mediterrâneo do início do século XX, passa pela Segunda Guerra Mundial e chega ao nosso tempo. A Ilha é uma história de desejos, de segredos desesperadamente escondidos e do estigma da lepra sobre quatro gerações de uma família.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Sinto Muito, de Nuno Lobo Antunes - confissões de um médico



É um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela.
«Sinto Muito é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala.
Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta, como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito. Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba.O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda. O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo. Mas no cais despede-se, e pede perdão por não ter sido parceiro para tal desafio.»

Do prefácio de António Damásio

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A Metamorfose, de Franz Kafka


Em A Metamorfose, Kafka narra a fantástica história de Gregor Samsa, que um dia, após acordar de sonhos intranquilos, se encontra transformado num gigantesco insecto.
A partir de então, a vida de Gregor passa a ser de grande sofrimento e agonia. Impossibilitado de sair do seu quarto, perde-se em devaneios e em considerações sobre a sua vida. A família, totalmente dependente dele, observa com asco e horror o jovem metamorfoseado que, aos poucos, vai definhando e chega à beira da loucura.
A Metamorfose é uma obra perturbadora. A atmosfera claustrofóbica da narrativa faz com que o leitor sinta todo o desespero do personagem principal, que se encontra incapacitado diante da sua nova realidade. Kafka apresenta-nos uma metáfora do mundo moderno, que nos aprisiona dentro de uma insignificante carapaça de insecto, diante da máquina burocrática do estado.
Gregor é um ser angustiado e sem iniciativa. Desencantado consigo mesmo e com o mundo, não encara a possibilidade de mudança. Acomoda-se e não procura a "libertação".
Um livro de qualidade.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma fábula intemporal...

Em O Triunfo dos Porcos, agora com o título original A Quinta dos Animais, tudo começa quando um velho porco, o Velho Major, sonha que libertará os animais da escravidão em que vivem e comunica aos outros o seu sonho. Passados três dias, Major morre, mas a revolução que iniciara na cabeça dos animais acabará por se concretizar com a expulsão do Sr. Reis (dono da quinta) e a libertação de todos os animais da escravidão. Da revolução nascem sete mandamentos, redigidos pelos porcos (considerados os mais inteligentes), que passam a reger a vida na quinta:
1º- Tudo o que anda sobre dois pés é inimigo;

2º- Tudo o que anda sobre quatro pés, ou asas, é amigo;

3º- Nenhum animal usará roupas;

4º- Nenhum animal dormirá numa cama;

5º- Nenhum animal beberá álcool;

6º- Nenhum animal matará outro animal;

7º- Todos os animais são iguais.

A contínua alteração dos mandamentos culmina no último mandamento, frase que ficará na história como marca de toda a alegoria de Orwell: "Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros"...
Esta fábula política intemporal surge como a me­táfora de uma sociedade “perfeita”, conduzida por um ideal utópico revolucionário, que se transforma rapidamente num regime opressivo, tirânico e totalitário quando governada segundo os interesses dos seus líderes.
Um livro imperdível.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Zafón


Na Barcelona de início do século XX, uma casa desabitada durante muitos anos encerra um mistério que envolve um livro maldito e a morte de uma criança. David, personagem principal e narrador, é um jovem aspirante a escritor que, após os primeiros fogachos de sucesso na escrita de histórias para um jornal, recebe o convite para escrever um livro de contornos tenebrosos para uma personagem sinistra que lhe oferece uma fortuna pela escrita do mesmo – um livro religioso, que, tal Bíblia ou Alcorão, permitira criar um novo movimento de condução das massas populares para qualquer fim que se pretendesse obter. Ao ir viver para a casa desabitada que há muito o atraía, David depara-se com coincidências estranhas que envolvem o anterior habitante dessa casa e o seu editor, dando início a uma investigação que a pouco e pouco vai deixando mortes estranhas atrás de si, à medida que vai sendo também perseguido pela polícia, contando ainda com a grande amizade de uma admiradora da sua escrita e o desespero do seu caso de amor pela mulher do seu melhor amigo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Os Retornados, de Júlio Magalhães


Outubro, 1975. Quando o avião levantou voo deixando para trás a baía de Luanda, Carlos Jorge tentou a todo o custo controlar a emoção. Em Angola deixava um pedaço de terra e de vida. Acompanhado pela mulher e filhos, partia rumo ao desconhecido. A uma pátria que não era a sua. Joana não ficou indiferente ao drama dos passageiros que sobrelotavam o voo 233. O mais difícil da sua carreira como hospedeira. No meio de tanta tristeza, Joana não conseguia esquecer o olhar firme e decidido de Carlos Jorge. Não percebia porquê, mas aquele homem perturbava-a profundamente. Despertava-a para a dura realidade da descolonização portuguesa e para um novo sentimento que só viria a ser desvendado vinte anos mais tarde. Foram milhares os portugueses que entre 1974 e 1975 fizeram a maior ponte área de que há memória em Portugal. Em Angola, a luta pelo poder dos movimentos independentistas espalhou o terror e a morte por um país outrora considerado a jóia do império português. Naquela espiral de violência, não havia outra solução senão abandonar tudo: emprego, casa, terras, fábricas e amigos de uma vida.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Catarina de Bragança, o novo romance de Isabel Stilwell



Depois de Filipa de Lencastre, a Rainha que Mudou Portugal, Isabel Stilwell traz-nos um novo e apaixonante romance sobre a vida da única portuguesa que subiu ao trono de Inglaterra. Pela sua mão somos levados numa viagem pela corte portuguesa do sec. XVII, durante o conturbado periodo da Restauração e pelo reinado do controverso Charles II de Inglaterra.

Sinopse
Com 23 anos a infanta Catarina de Bragança, filha de D. Luísa de Gusmão e de D. João IV, deixou para trás tudo o que lhe era querido e próximo para navegar rumo a uma vida nova. No coração um misto de tristeza e alegria. Saudades da sua Lisboa, de Vila Viçosa, do cheiro a laranjas, dos seus irmãos que já haviam partido deste mundo e dos que ficavam em Portugal a lutar pelo poder. Mas os seus olhos escuros deixavam perceber o entusiasmo pelo casamento com o homem dos seus sonhos, Charles de Inglaterra, um príncipe encantado que Catarina amava perdidamente ainda antes de o conhecer.
Por ele sofreu num país do qual desconhecia a língua, os costumes e onde a sua religião era condenada. Assistiu às infidelidades do marido, ao nascimento dos seus filhos bastardos enquanto o seu ventre permanecia liso e seco, incapaz de gerar o tão desejado herdeiro. Catarina não conseguiu cumprir o único objectivo que como mulher e rainha lhe era exigido. Se ao menos não o amasse tanto!, pensava nas noites mais longas e tristes...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Medo, de Jeff Abbott

Sinopse
Miles Kendrick está no Programa de Protecção de Testemunhas para se esconder da Máfia. Mas nenhum programa o protege de ser atormentado pela morte do amigo. Com a ajuda da psiquiatra Allison Vance, Miles tenta agarrar-se ao que lhe resta da sua lucidez para recordar os acontecimentos daquela noite trágica.Depois de um ataque bombista ao seu escritório, Allison morre e Miles vê-se apanhado numa conspiração mortal que se repercute muito para além dos seus piores pesadelos. Perseguido por um ex-detective do FBI, mas apoiado por um ex-soldado e uma mulher reclusa na sua própria casa, Miles tem pela frente uma batalha para recuperar a sua vida – ou para simplesmente se manter vivo.
Comentário
Conheço poucos escritores que consigam interceptar uma boa história com um suspense arrebatador e um ritmo sem precedentes…o amigo Jeff está quase lá, pois tem evoluído bastante ao longo dos livros que teve a amabilidade de escrever, conseguindo cativar os sentimentos mais íntimos dos leitores e manipular a história de uma maneira inimaginável. Um bem-haja a este homem que ainda vai fazer correr rios de tinta (ou não…).
Neste seu livro, ele tenta despertar em nós, usando habilidosamente as suas personagens, um sentimento cortante e aflitivo, que também nos leva a momentos de coragem e determinação, estruturando e levando o enredo ao limite do imaginável. Através do conhecimento dos nossos medos mais profundos – gerados pelas partidas psicológicas de que as personagens são alvo – consegue gerar conflitos de interesses e intrigas entre eles de modo a que estes ultrapassem as suas dificuldades. Saliento ainda que a forma como as histórias das personagens se entrecruzam é bastante criativa, misturando sentimentos e paixões com a inevitável tragédia em que todos se encontram. Outro bem-haja ao homem que já deve ter as orelhas vermelhas.
MEDO é um livro que até é giro e que, parecendo que não, tem todas estas coisas que se podem resumir de 430 páginas lidas. Agora na parte das ideias soltas, aproveito para referir que este livrinho andou a bisbilhotar em organizações mafiosas, tem aqui cenas puxadinhas (e quando digo puxadinhas é…é cenas de interesse elevado), possui personagens que sofrem de stress pós-traumático (acho que é um sinónimo para “malucas”) e um final extremamente comovente (eu tirei uma foto a mim próprio, porque me encontrava a chorar).
Espero que passem nem que seja uma vista de olhos e não vão logo direitos ao final, porque podem não ter lenços à mão e assoarem-se às mangas é bastante…duvidoso.

Pedro Oliveira, 11ºA

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Regresso, de Victoria Hislop


Nas ruas calcetadas de Granada ecoam música e segredos. Sónia Cameron não sabe nada sobre o passado chocante da cidade; ela está lá para dançar. Mas num café sossegado, uma conversa casual e uma colecção intrigante de fotografias antigas despertam a sua atenção para a história extraordinária da devastadora Guerra Civil Espanhola.
Setenta anos antes, o café era a casa da unida família Ramirez. Em 1936, um golpe militar liderado por Franco destrói a frágil paz do país, e no coração de Granada a família testemunha as maiores atrocidades do conflito. Divididos pela política e pela tragédia, todos têm de tomar uma posição, travando uma batalha pessoal enquanto a Espanha se autodestrói.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A vida num sopro, o último romance de José Rodrigues dos Santos

Através da história de uma paixão que desafia os valores tradicionais do Portugal conservador, este fascinante romance transporta-nos ao fogo dos anos em que se forjou o Estado Novo. Portugal anos 30.
Salazar acabou de ascender ao poder e, com mão de ferro, vai impondo a ordem no país. Portugal muda de vida. As contas públicas são equilibradas, Beatriz Costa anima o Parque Mayer, a PVDE cala a oposição.
Luís é um estudante idealista que se cruza no liceu de Bragança com os olhos cor de mel de Amélia. O amor entre os dois vai, porém, ser duramente posto à prova por três acontecimentos que os ultrapassam: a oposição da mãe da rapariga, um assassinato inesperado e a guerra civil de Espanha.
Através da história de uma paixão que desafia os valores tradicionais do Portugal conservador, este fascinante romance transporta-nos ao fogo dos anos em que se forjou o Estado Novo.
Com A Vida num Sopro, José Rodrigues dos Santos traz o grande romance de volta às letras portuguesas.