sábado, 31 de janeiro de 2009

Sinto Muito, de Nuno Lobo Antunes - confissões de um médico



É um livro de confissões/memórias de um neuro oncologista pediátrico e hoje neurologista sobre doenças de deficit de atenção. Uma reflexão sentida sobre aquilo porque muitas pessoas têm que passar ao longo da vida ou já no fim dela.
«Sinto Muito é sobre o sofrimento em geral, sobre a dor, seguida de perda, seguida de dor. Entristece o coração, mas recompensa-o grandemente, tornando-o mais leve e melhor. Nuno Lobo Antunes pretende, com bom propósito e bons resultados, deixar que o seu coração se pronuncie, que se liberte a sua voz, que seja conhecida a sua humanidade. E, na verdade, a alma fala.
Há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta, como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito. Este é um livro de confissões. Uma peregrinação interior em que a bailarina torce o pé, o saltador derruba a barra, o arquitecto se senta debaixo da abóbada, e no fim, ela desaba.O médico e o seu doente são um só, face dupla da mesma moeda. O médico provoca o Criador, não lhe vai na finta, evita o engodo. Mas no cais despede-se, e pede perdão por não ter sido parceiro para tal desafio.»

Do prefácio de António Damásio

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

A Metamorfose, de Franz Kafka


Em A Metamorfose, Kafka narra a fantástica história de Gregor Samsa, que um dia, após acordar de sonhos intranquilos, se encontra transformado num gigantesco insecto.
A partir de então, a vida de Gregor passa a ser de grande sofrimento e agonia. Impossibilitado de sair do seu quarto, perde-se em devaneios e em considerações sobre a sua vida. A família, totalmente dependente dele, observa com asco e horror o jovem metamorfoseado que, aos poucos, vai definhando e chega à beira da loucura.
A Metamorfose é uma obra perturbadora. A atmosfera claustrofóbica da narrativa faz com que o leitor sinta todo o desespero do personagem principal, que se encontra incapacitado diante da sua nova realidade. Kafka apresenta-nos uma metáfora do mundo moderno, que nos aprisiona dentro de uma insignificante carapaça de insecto, diante da máquina burocrática do estado.
Gregor é um ser angustiado e sem iniciativa. Desencantado consigo mesmo e com o mundo, não encara a possibilidade de mudança. Acomoda-se e não procura a "libertação".
Um livro de qualidade.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Uma fábula intemporal...

Em O Triunfo dos Porcos, agora com o título original A Quinta dos Animais, tudo começa quando um velho porco, o Velho Major, sonha que libertará os animais da escravidão em que vivem e comunica aos outros o seu sonho. Passados três dias, Major morre, mas a revolução que iniciara na cabeça dos animais acabará por se concretizar com a expulsão do Sr. Reis (dono da quinta) e a libertação de todos os animais da escravidão. Da revolução nascem sete mandamentos, redigidos pelos porcos (considerados os mais inteligentes), que passam a reger a vida na quinta:
1º- Tudo o que anda sobre dois pés é inimigo;

2º- Tudo o que anda sobre quatro pés, ou asas, é amigo;

3º- Nenhum animal usará roupas;

4º- Nenhum animal dormirá numa cama;

5º- Nenhum animal beberá álcool;

6º- Nenhum animal matará outro animal;

7º- Todos os animais são iguais.

A contínua alteração dos mandamentos culmina no último mandamento, frase que ficará na história como marca de toda a alegoria de Orwell: "Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros"...
Esta fábula política intemporal surge como a me­táfora de uma sociedade “perfeita”, conduzida por um ideal utópico revolucionário, que se transforma rapidamente num regime opressivo, tirânico e totalitário quando governada segundo os interesses dos seus líderes.
Um livro imperdível.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Jogo do Anjo, de Carlos Ruiz Zafón


Na Barcelona de início do século XX, uma casa desabitada durante muitos anos encerra um mistério que envolve um livro maldito e a morte de uma criança. David, personagem principal e narrador, é um jovem aspirante a escritor que, após os primeiros fogachos de sucesso na escrita de histórias para um jornal, recebe o convite para escrever um livro de contornos tenebrosos para uma personagem sinistra que lhe oferece uma fortuna pela escrita do mesmo – um livro religioso, que, tal Bíblia ou Alcorão, permitira criar um novo movimento de condução das massas populares para qualquer fim que se pretendesse obter. Ao ir viver para a casa desabitada que há muito o atraía, David depara-se com coincidências estranhas que envolvem o anterior habitante dessa casa e o seu editor, dando início a uma investigação que a pouco e pouco vai deixando mortes estranhas atrás de si, à medida que vai sendo também perseguido pela polícia, contando ainda com a grande amizade de uma admiradora da sua escrita e o desespero do seu caso de amor pela mulher do seu melhor amigo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Os Retornados, de Júlio Magalhães


Outubro, 1975. Quando o avião levantou voo deixando para trás a baía de Luanda, Carlos Jorge tentou a todo o custo controlar a emoção. Em Angola deixava um pedaço de terra e de vida. Acompanhado pela mulher e filhos, partia rumo ao desconhecido. A uma pátria que não era a sua. Joana não ficou indiferente ao drama dos passageiros que sobrelotavam o voo 233. O mais difícil da sua carreira como hospedeira. No meio de tanta tristeza, Joana não conseguia esquecer o olhar firme e decidido de Carlos Jorge. Não percebia porquê, mas aquele homem perturbava-a profundamente. Despertava-a para a dura realidade da descolonização portuguesa e para um novo sentimento que só viria a ser desvendado vinte anos mais tarde. Foram milhares os portugueses que entre 1974 e 1975 fizeram a maior ponte área de que há memória em Portugal. Em Angola, a luta pelo poder dos movimentos independentistas espalhou o terror e a morte por um país outrora considerado a jóia do império português. Naquela espiral de violência, não havia outra solução senão abandonar tudo: emprego, casa, terras, fábricas e amigos de uma vida.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Catarina de Bragança, o novo romance de Isabel Stilwell



Depois de Filipa de Lencastre, a Rainha que Mudou Portugal, Isabel Stilwell traz-nos um novo e apaixonante romance sobre a vida da única portuguesa que subiu ao trono de Inglaterra. Pela sua mão somos levados numa viagem pela corte portuguesa do sec. XVII, durante o conturbado periodo da Restauração e pelo reinado do controverso Charles II de Inglaterra.

Sinopse
Com 23 anos a infanta Catarina de Bragança, filha de D. Luísa de Gusmão e de D. João IV, deixou para trás tudo o que lhe era querido e próximo para navegar rumo a uma vida nova. No coração um misto de tristeza e alegria. Saudades da sua Lisboa, de Vila Viçosa, do cheiro a laranjas, dos seus irmãos que já haviam partido deste mundo e dos que ficavam em Portugal a lutar pelo poder. Mas os seus olhos escuros deixavam perceber o entusiasmo pelo casamento com o homem dos seus sonhos, Charles de Inglaterra, um príncipe encantado que Catarina amava perdidamente ainda antes de o conhecer.
Por ele sofreu num país do qual desconhecia a língua, os costumes e onde a sua religião era condenada. Assistiu às infidelidades do marido, ao nascimento dos seus filhos bastardos enquanto o seu ventre permanecia liso e seco, incapaz de gerar o tão desejado herdeiro. Catarina não conseguiu cumprir o único objectivo que como mulher e rainha lhe era exigido. Se ao menos não o amasse tanto!, pensava nas noites mais longas e tristes...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Medo, de Jeff Abbott

Sinopse
Miles Kendrick está no Programa de Protecção de Testemunhas para se esconder da Máfia. Mas nenhum programa o protege de ser atormentado pela morte do amigo. Com a ajuda da psiquiatra Allison Vance, Miles tenta agarrar-se ao que lhe resta da sua lucidez para recordar os acontecimentos daquela noite trágica.Depois de um ataque bombista ao seu escritório, Allison morre e Miles vê-se apanhado numa conspiração mortal que se repercute muito para além dos seus piores pesadelos. Perseguido por um ex-detective do FBI, mas apoiado por um ex-soldado e uma mulher reclusa na sua própria casa, Miles tem pela frente uma batalha para recuperar a sua vida – ou para simplesmente se manter vivo.
Comentário
Conheço poucos escritores que consigam interceptar uma boa história com um suspense arrebatador e um ritmo sem precedentes…o amigo Jeff está quase lá, pois tem evoluído bastante ao longo dos livros que teve a amabilidade de escrever, conseguindo cativar os sentimentos mais íntimos dos leitores e manipular a história de uma maneira inimaginável. Um bem-haja a este homem que ainda vai fazer correr rios de tinta (ou não…).
Neste seu livro, ele tenta despertar em nós, usando habilidosamente as suas personagens, um sentimento cortante e aflitivo, que também nos leva a momentos de coragem e determinação, estruturando e levando o enredo ao limite do imaginável. Através do conhecimento dos nossos medos mais profundos – gerados pelas partidas psicológicas de que as personagens são alvo – consegue gerar conflitos de interesses e intrigas entre eles de modo a que estes ultrapassem as suas dificuldades. Saliento ainda que a forma como as histórias das personagens se entrecruzam é bastante criativa, misturando sentimentos e paixões com a inevitável tragédia em que todos se encontram. Outro bem-haja ao homem que já deve ter as orelhas vermelhas.
MEDO é um livro que até é giro e que, parecendo que não, tem todas estas coisas que se podem resumir de 430 páginas lidas. Agora na parte das ideias soltas, aproveito para referir que este livrinho andou a bisbilhotar em organizações mafiosas, tem aqui cenas puxadinhas (e quando digo puxadinhas é…é cenas de interesse elevado), possui personagens que sofrem de stress pós-traumático (acho que é um sinónimo para “malucas”) e um final extremamente comovente (eu tirei uma foto a mim próprio, porque me encontrava a chorar).
Espero que passem nem que seja uma vista de olhos e não vão logo direitos ao final, porque podem não ter lenços à mão e assoarem-se às mangas é bastante…duvidoso.

Pedro Oliveira, 11ºA

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O Regresso, de Victoria Hislop


Nas ruas calcetadas de Granada ecoam música e segredos. Sónia Cameron não sabe nada sobre o passado chocante da cidade; ela está lá para dançar. Mas num café sossegado, uma conversa casual e uma colecção intrigante de fotografias antigas despertam a sua atenção para a história extraordinária da devastadora Guerra Civil Espanhola.
Setenta anos antes, o café era a casa da unida família Ramirez. Em 1936, um golpe militar liderado por Franco destrói a frágil paz do país, e no coração de Granada a família testemunha as maiores atrocidades do conflito. Divididos pela política e pela tragédia, todos têm de tomar uma posição, travando uma batalha pessoal enquanto a Espanha se autodestrói.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A vida num sopro, o último romance de José Rodrigues dos Santos

Através da história de uma paixão que desafia os valores tradicionais do Portugal conservador, este fascinante romance transporta-nos ao fogo dos anos em que se forjou o Estado Novo. Portugal anos 30.
Salazar acabou de ascender ao poder e, com mão de ferro, vai impondo a ordem no país. Portugal muda de vida. As contas públicas são equilibradas, Beatriz Costa anima o Parque Mayer, a PVDE cala a oposição.
Luís é um estudante idealista que se cruza no liceu de Bragança com os olhos cor de mel de Amélia. O amor entre os dois vai, porém, ser duramente posto à prova por três acontecimentos que os ultrapassam: a oposição da mãe da rapariga, um assassinato inesperado e a guerra civil de Espanha.
Através da história de uma paixão que desafia os valores tradicionais do Portugal conservador, este fascinante romance transporta-nos ao fogo dos anos em que se forjou o Estado Novo.
Com A Vida num Sopro, José Rodrigues dos Santos traz o grande romance de volta às letras portuguesas.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Um belo poema para começar o ano!


Recomeça...


Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.


E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga