domingo, 29 de março de 2009

A Ilha na Rua dos Pássaros, de Uri Orlev



Sinopse:


A Segunda Guerra Mundial está em curso. Os tempos são difíceis na Polónia, especialmente para os judeus. Alex é judeu e tem onze anos. Quando a sua mãe desaparece e o pai é “seleccionado” pelo exército alemão para ir para um destino desconhecido, Alex, completamente sozinho, é obrigado a refugiar-se num edifício abandonado na Rua dos Pássaros onde vai aguentar um Inverno. Pacientemente, sem pressas, Alex vai sobrevivendo, enquanto espera o regresso do pai. Por um nicho de luz, Alez consegue vislumbrar os escombros, a degradação e miséria total a que aquela terra, outrora tão apetecível, foi votada.
Coragem e valentia não são excepcionais em tempo de guerra, mas Alex só tem 11 anos e a sua história é, na verdade, sobre o desejo de alguém vencer a crueldade e a injustiça.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Romance das Ilhas Encantadas, um dos livros postos à prova na Fase Distrital do CNL


Em tempos que já lá vão um nigromante, isto é, um homem que conhecia as artes mágicas, encantou as ilhas do grande mar Oceano. Só as mulheres marinhas (ou, por outro nome, as ondinas), que eram filhas do mar e conheciam todos os seus segredos, sabiam o paradeiro certo. E eram elas que as protegiam dos estranhos, sobretudo dos moiros, desviando navios e espalhando nevoeiros para as ocultar. O porquê desse encanto e a gesta dos marinheiros que o ousaram desfazer constitui o cerne desta história maravilhosa que o grande escritor Jaime Cortesão quis legar aos mais jovens.

Jaime Zuzarte Cortesão (1884-1960) foi um dos principais mentores de «Renascença Portuguesa». Poeta de grande valor — ombreou com Teixeira de Pascoaes — legou-nos também uma obra importantíssima no domínio da História de Portugal.


Neste livro "Jaime Cortesão combina a componente histórica com a maravilhosa, criando uma narrativa de aparência lendária, associada à descoberta das ilhas dos Açores e da Madeira.
A presença de alusões a personagens referenciais e a factos históricos, como é o caso da reconquista cristã, de D. Afonso Henriques, do conde D. Henrique e dos «descobrimentos» portugueses, não inibe o seu cruzamento com uma certa ideia mítica acerca da génese da identidade nacional portuguesa, conotada com uma dimensão atlântica e marinheira dos portugueses que a narrativa recupera. A filiação marinha (e maravilhosa) do povo português explica o seu destino atlântico e descobridor e justifica, deste modo, o seu passado e o seu presente. As ilustrações são igualmente interessantes. As aguarelas que pontuam o texto dão conta da ambiência marinha e até da dimensão épica da intriga, valorizando ambientes e heróis."

adaptado de A Casa da Leitura

segunda-feira, 23 de março de 2009

A Corte do Norte, de Agustina Bessa-Luís


Este ano assinala-se o ‘Ano Agustina', uma iniciativa da Guimarães Editores, apoiada pelo Instituto Camões (IC), para assinalar a publicação da Opera Omnia de Agustina Bessa-Luís e o 55º aniversário da 1ª edição de A Sibila.


A Corte do Norte, de João Botelho, é o filme estreado em 19 de Março que adapta para o cinema o romance histórico homónimo de Agustina Bessa-Luís.


Sinopse do livro A Corte do Norte

A Corte do Norte é um dos mais belos e enigmáticos romances de Agustina Bessa-Luís. Para isso contam não só o talento eterno e o altíssimo momento da autora na época (1987), mas também o cenário (a Madeira) e um enredo pós-romântico de traições, paixões e desacertos. A história de cinco gerações de mulheres, a partir de Rosalina de Souza, mulher de temperamento forte e decidido, ex-actriz e prostituta (na época eram sinónimos), que em 1860 abandonou o marido, os filhos e o título de baronesa de Madalena no Mar, indo refugiar-se na Corte do Norte, e deixando à família o mistério sobre o seu destino. Em 1960, Rosamund, trineta de Rosalina, decide reconstruir a história de sua família e tenta desvendar o mistério sobre o que aconteceu com a trisavó.


“...é um tratado de livres caudais do engenho e da arte de escrever. A imaginação, como as levadas na Ilha da Madeira, salta por todas as fragas e produz lagos e cataratas. Nada a prende e tudo a modela. Ler Agustina Bessa-Luís é, neste caso, um exercício de colaboração na escrita. Porque o leitor participa no que inventa e no que deduz, e o romance resulta do que todos argumentam e podem supor.”
A Editora

sábado, 21 de março de 2009

Poemas de Deus e do Diabo, de José Régio


José Régio é o pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira. Em 1927, juntamente com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, fundou a revista "Presença" e iniciou um movimento que viria a marcar profundamente a literatura portuguesa, constituindo uma espécie de 2º modernismo.
A sua estreia literária data de 1925, altura em que publicou a sua obra mais conhecida Poemas de Deus e do Diabo. Nessa obra é muito perceptível uma tendência introspectiva, procurando apreender poeticamente as contradições psicológicas do ser humano, permanentemente dividido entre o bem e o mal. Mergulhado nesse conflito interior, o homem aparece sempre como um ser inacabado, imperfeito, permanentemente dividido...


CÂNTICO NEGRO

Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,E nunca vou por ali...


A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...


Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...


Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!


José Régio in Poemas de Deus e do Diabo

segunda-feira, 16 de março de 2009

DIA MUNDIAL DA POESIA - 21 de Março


Leio-te

Leio-te
Agora sei que era a tua voz que me seguia
pelas esplanadas de cio
sem palavras
A voz do tempo onde
o silêncio se sente como agulhas
picando os lábios
lentas lâminas
cercando as tardes
e a fome
sempre a fome da tua poesia
o corpo subtil da palavra
pele impossível
desta manhã que arranco à alma das paredes
Leio-te
como quem segue o voo de um pássaro
em nuvens que não sabe
Talvez o quase imponderável
seja o grito claro de sílabas
voando inclinadas de encontro às bocas
Ler-te
é pois colocar dedos neste silêncio
ávido de poemas solares
páginas intermináveis
abissais
como o centro da terra
onde funda a sua lava o canto do lume
em sonetos que o vesúvio grita

João Martim 21 de Março de 2004

domingo, 15 de março de 2009

Uma Casa na Escuridão, de José Luís Peixoto


Sinopse

"A casa vive um mês por ano na escuridão. O escritor está fechado na casa, no seu mundo.A escrita e a mulher amada brotam de um único lugar onírico, luminoso. Na casa vivem também uma mãe embrutecida pela dor, uma escrava silenciosa, uma multidão de gatos que se apropriam do espaço e dos humanos que o habitam.
O mundo fora da casa é um país que vive na impassibilidade das regras estabelecidas, arrastado pela inércia, depurado pelas prisões, embalado pela literatura. Mas eis que chegam os invasores e, com eles, a escuridão absurda que a barbárie daquela civilização já não sabe como encarar nem combater. A casa transforma-se então num asilo de seres mutilados, violados, brutalizados quotidianamente. Mas é também, ainda, um jardim: um jardim de infância dos filhos dos invasores.
Amputado na sua capacidade de escrever, sonhar e amar, o escritor é salvo da morte em vida apenas pela força amorosa das crianças, transportado para o absoluto pelo manto unificador da podridão que se abate sobre todos os humanos, invasores e invadidos.
Podendo ser lido como uma magistral alegoria do fim de uma civilização que é, sem dúvida, a nossa ou como uma denúncia, violenta na sua doçura, da barbárie que nos submerge sem que nos demos verdadeiramente conta, Uma Casa na Escuridão é um romance onde José Luís Peixoto consegue um equilíbrio miraculoso entre o pensamento do negrume que nos ameaça enquanto espécie e o júbilo de ternura que nos resgata e que resgata, sempre, a escrita do autor para um espaço verdadeiramente intocado e novo."

sexta-feira, 13 de março de 2009

A Soma dos Dias, de Isabel Allende


SINOPSE


"Entre a memória e a autobiografia, A Soma dos Dias começa quando a família de Isabel Allende se reúne para a triste cerimónia de espalhar as cinzas de Paula, protagonista de um dos mais famosos livros da autora…
Uma obra emotiva e escrita no tom irónico e apaixonado que caracteriza a autora, na qual nos entrega a soma dos seus dias como mulher e como escritora.
Nas páginas deste livro, Isabel Allende narra com franqueza a história recente da sua vida e a da sua peculiar família na Califórnia, numa casa aberta, cheia de gente e de personagens literários, e protegida por um espírito: filhas perdidas, netos e livros que nascem, êxitos e sofrimento, uma viagem ao mundo dos vícios e outras a lugares remotos do mundo em busca de inspiração, juntamente com divórcios, encontros, amores, separações, crises matrimoniais e reconciliações.Também é uma história de amor entre um homem e uma mulher maduros, que ultrapassaram juntos muitos obstáculos sem perderem a paixão nem o humor, e de uma família moderna, desgarrada por conflitos e unida, apesar de tudo, pelo carinho e a decisão de continuar em frente. Esta é a família que descobrimos em Paula e que descende dos personagens de A Casa dos Espíritos."

terça-feira, 10 de março de 2009

Paula, de Isabel Allende


Este livro é o testemunho contado na primeira pessoa sobre a morte de uma filha. Como se de uma viagem ao sofrimento humano se tratasse, o livro percorre também a vida da escritora, entrecortada por alegrias e tristezas, acontecimentos que fizeram história, personagens diversas, amores e desilusões.
Isabel Allende garante que esta obra não é sobre a morte. "O meu livro Paula é uma memória trágica da história da morte de uma jovem rapariga, mas sobretudo uma celebração da vida. (...) A sua longa agonia deu-me a oportunidade única de rever o meu passado." Com efeito, embora Paula tenha como ponto de partida e fio condutor a doença da filha da escritora, o livro vai-se transformando num autêntico documento autobiográfico, à medida que Isabel Allende faz desfilar as figuras e os acontecimentos que intervieram na sua vida. Não se trata de uma mera obra auto-complacente, portanto.
Como afirma a escritora, o romance serviu de veículo para prolongar a presença da filha junto da mãe, para manter a vida que já a tinha abandonado desde o momento em que deu entrada no hospital, mergulhando num coma profundo. Para Isabel Allende, a escrita funcionou aqui como um elemento catártico, a salvação para a mais profunda das agonias, fixando no papel as memórias e as recordações, para que o tempo não as apagasse irreversivelmente.


Excertos


"Silêncio antes de nascer, silêncio depois da morte, a vida é um mero ruído entre dois insondáveis silêncios."


"Os filhos, como os livros, são viagens ao interior de nós próprios, nas quais o corpo, a mente e a alma mudam de direcção, regressam ao próprio centro de existência."


"A mente selecciona, exagera, atraiçoa, os acontecimentos esfumam-se, as pessoas esquecem-se e, no fim, resta apenas o trajecto da alma, esses escassos momentos de revelação do espírito. Não interessa o que me aconteceu, mas sim as cicatrizes que me marcam e distinguem."



domingo, 8 de março de 2009

CALÇADA DE CARRICHE - uma sentida homenagem à mulher





Luísa sobe
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.


Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.


Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
António Gedeão, in 'Teatro do Mundo'


sexta-feira, 6 de março de 2009

DIA DA MULHER


Poema Melancólico a não sei que Mulher

Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;
Nos meus versos ficaram Imagens que são máscaras anónimas
Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.
Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...


Miguel Torga, in 'Diário VII'