quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O Priorado do CIFRÃO, de João Aguiar


Sinopse

"Em Londres, na sala do Museu Britânico onde está exposto o Estandarte de Ur, foi encontrado morto Sir Alastair Hopkins-Smith, um conhecido académico inglês. O corpo estava numa estranha posição, com o polegar da mão direita metido na boca, como se estivesse a chuchar no dedo.Paralelamente, há outras ocorrências: o desaparecimento misterioso, na Áustria, de outro académico, o Prof. Heinrich Loewe; e a morte, num acidente de viação suspeito, de um escritor português, Alfredo Estria, um velhote excêntrico que escreve e publica obras de cunho esotérico.Há algo de comum nos três homens: todos eles se preparavam para atacar violentamente um livro que acaba de ser lançado nos Estados Unidos e promete ser um êxito mundial, o romance The Caravaggio Papers, de Ben Browning, que, através de um suspense bem urdido, passa a mensagem de que, na sua origem, a doutrina cristã era de tipo orgiástico…The Caravaggio Papers foi publicado por um grande grupo editorial de origem americana, a Thoth International, que detém uma editora portuguesa, a Codex 3, onde trabalha Miguel, o jovem protagonista deste romance.

E mais não se pode dizer… Quem leu estas linhas já certamente percebeu que O Priorado do Cifrão é uma (excelente) charge a realidades que todos nós conhecemos e que têm hoje em Portugal uma inesperada actualidade.

Ridendo castigat mores - terá dito para si próprio João Aguiar, que certamente se divertiu a escrever este livro tanto como todos nós nos divertimos ao lê-lo."

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Cemitério de pianos, de José Luís Peixoto


Sinopse
"Numa Lisboa sem tempo, entre Benfica e o centro, nascem, vivem, sonham, amam, casam, trabalham e morrem as personagens deste livro. No ventre de uma oficina de carpintaria aninha-se o cemitério de pianos, instrumentos cujo mecanismo, à semelhança dos seres que os rodeiam, não está morto, encontrando-se antes suspenso entre vidas. Exílio voluntário onde se reflecte, se faz amor, lugar de leituras clandestinas, espaço recatado de adúlteros, pátio de brincadeiras infantis e confessionário de mortos, é o espaço onde se encadeiam gerações.
Os narradores – pai e filho –, em tempos diferentes, que se sobrepõem por vezes, desvendam a história da família, numa linguagem intercalada de sombras e luz, de silêncio e riso, de medo e esperança, de culpa e perdão. Contam-nos histórias de amor, urgentes e inevitáveis, pungentes, nas quais se lê abandono, violência doméstica e faltas nem sempre redimidas que, no entanto, acabam por ser resgatadas pelo poder esmagador da ternura e dos afectos. Falam-nos de morte, não para indicar o fim, mas a renovação, o elo entre as gerações e a continuação: o pai – relação entre dois Franciscos, iguais no nome e no destino, por um gerado, do outro genitor – nasce no dia da morte desse primeiro Lázaro; o filho, neto do seu homónimo, morre no dia em que a sua mulher dá à luz.
Com uma fluência extraordinária e um travo a poesia que sacia os que lêem também pelo prazer das palavras, este é um livro para nunca mais esquecer."

Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto
Bertrand Editora 2006.


Excertos

"À procura, procura o vento. Porque a minha vontade tem o tamanho de uma lei da terra.Porque a minha força determina a passagem do tempo. Eu quero. Eu sou capaz de lançar um grito para dentro de mim, que arranca árvores pelas raízes, que explode veias em todos os corpos, que trespassa o mundo. Eu sou capaz de correr através desse grito, à sua velocidade, contra tudo o que se lança para deter-me, contra tudo o que se levanta no meu caminho, contra mim sempre. Porque a minha vontade me regenera, faz-me nascer, renascer. Porque a minha força é imortal".


"...nem sequer é impossível. A verdade como o silêncio, existe apenas onde não estou. O silêncio existe por trás das palavras que se animam no meu interior, que se combatem, se destroem e que, nessa luta, abrem rasgões de sangue dentro de mim. Quando paro de pensar e me fixo, por exemplo, nas ruínas de uma casa, há vento que agita as pedras abandonadas desse lugar, há vento que traz sons distantes e, então, o silêncio existe nos meus pensamentos. Intocado e intocável. Quando volto aos meus pensamentos, o silêncio regressa a essa casa morta. É também aí, nessa ausência de mim, que existe a verdade."

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Platero e Eu, de Juan Ramón Jiménez


Platero e Eu é um magnífico poema em prosa, em que Juan Ramón Jiménez (Prémio Nobel de Literatura, em 1956) descreve o ambiente e a vida da gente simples da sua pequena aldeia andalusa, e também a afeição que o une ao burrito Platero, que umas vezes lhe serve de confidente, e outras é o verdadeiro sujeito da acção. Ambos, jovem e burro, percorrem as ruas da aldeia e os campos em seu redor, trocando impressões e imaginando aventuras, ou cruzando-se com alguns dos seus conterrâneos (a filha do carvoeiro que entoa uma canção de embalar, os meninos pobres que brincam, o padeiro que vai entregar o pão ao meio-dia, etc.). Servido por uma tradução de José Bento, e pelas magníficas ilustrações de Bernardo Marques, Platero e Eu é um livro que ficará para sempre no coração dos leitores.


"Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio, que dir-se-ia todo de algodão, que não tem ossos. Só os espelhos de azeviche dos seus olhos são duros como dois escaravelhos de cristal negro.Deixo-o solto, e vai para o prado, e acaricia levemente com o focinho, mal as roçando, as florinhas róseas, azuis-celestes e amarelas... Chamo-o docemente: «Platero», e ele vem até mim com um trote curto e alegre que parece rir em não sei que guizalhar ideal...Come o que lhe dou. Gosta das tangerinas, das uvas moscatéis, todas de âmbar, dos figos roxos, com sua cristalina gotita de mel...E terno e mimoso como um menino, como uma menina...; mas forte e seco como de pedra. Quando nele passo, aos domingos, pelas últimas ruelas da aldeia, os camponeses, vestidos de lavado e vagarosos, param a olhá-lo:— Tem aço...Tem aço. Aço e prata de luar, ao mesmo tempo."


Juan Ramón Jiménez, Platero e Eu, Editora Livros do Brasil, 2003

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Dia Em Que Sócrates Vestiu Jeans, de Lucy Eyre


Um inteligente e divertido romance que nos mostra como a filosofia pode mudar as nossas vidas para melhor.
Ben Warner, um típico adolescente a passar umas férias de Verão enfadonhas, surpreende-se quando Lila, uma mulher jovem e atraente, lhe faz um bizarro convite. Embora tentado, Ben sente-se inseguro. E tem razões para isso!... Lila quer levá-lo para o Mundo das Ideias, um lugar completamente desconhecido para Ben. Mas Lila tem uma missão. O seu chefe, Sócrates, presidente do Mundo das Ideias — cargo que mantém há 1209 anos — fez uma aposta com o seu arqui-rival Wittgenstein. Para a ganhar e manter o seu cargo, Sócrates terá de fazer crer a Ben que a filosofia pode melhorar a sua vida. Desconhecendo o que lhe vai acontecer, Ben entra num inesperado mundo paralelo. E assim começa a sua viagem mental à volta das grandes e pequenas questões da vida. O que é a felicidade? A morte é o que de pior nos pode acontecer? Teremos vontade própria? E, a pouco e pouco, Ben começa a interrogar-se sobre as mais variadas questões e a acreditar que a vida é muito mais do que um jogo de futebol. Excêntrico, divertido e original, O Dia em Que Sócrates Vestiu Jeans é a história de um jovem que escapa da sua vida entediante para um excitante mundo paralelo e desperta para a real importância da vida através da aprendizagem dos conceitos básicos da filosofia.



Comentário de Pedro Oliveira, do 11ºA
"Asseguro-vos que encontrarão neste livro muitas formas de encarar o mundo que nos rodeia ou que talvez tenhamos sido nós a criá-lo. O livro conta a história de um rapaz que se deixou apaixonar pela filosofia e que passou a adoptá-la correctamente no mundo em que vive, questionando-se sobre o que nunca pensou duvidar e criticando racionalmente os problemas éticos da vida humana. O garanhão da história é um rapazito chamado Ben que, com a ajuda da filosofia, consegue arranjar uma miúda que, pela descrição, é muita razoável; e, se não fosse o Sócrates, nada disto tinha acontecido (não, não é o Sócrates do Freeport, mas sim um dos maiores filósofos de que se tem memória – também nos iremos recordar do outro se calhar).
Para não arranjarem a hipótese de que vos estou a impingir umas meras folhinhas, tomei a liberdade de questionar algumas pessoas que já leram (nem que sejam uma meras páginas, mas que conseguem fazer uma crítica consistente) para vos deleitar com a prosa filosófica que vos apresentei:
· Dr. Romão - é um livro muito bom, agradeço à Prof. Gina por nos ler (apesar de nunca mais o termos feito...) e quem me dera ir ao paraíso dos filósofos (o Dr. Romão mudou de opinião após ter lido o que escreveu).
· Dr. Cunha - o livro ensina-nos a ver o mundo de um ponto de vista alternativo.
· Dr. Perdigão - quem não gostaria de saber como seria o mundo dos filósofos antigamente? Mesmo que não queiram saber aconselho-vos a leitura do livro.
· Dr. Golovca - agora estou a tratar dos vírus, não tenho tempo para comentários.
· Dra. Alves - o senhor Sócrates é um homem à maneira, todo virado prá "frentex" (veste jeans e tudo) e embora argumente muito sobre assuntos muitas vezes desinteressantes, com o objectivo de nos pôr a pensar (o que, sejamos sinceros, nem sempre acontece) parece ser boa pessoa.
· Dr. Pinhão - posso dizer k é um livro divertido e original que tem como objectivo mostrar aos jovens que a filosofia até pode melhorar as suas vidas.
· Dra. Paixão - Preferia o Dia em que o Sócrates vestiu Kilt, enquadrava melhor na sua longa barba cheia de sabedoria.


PS: Um muito obrigado a todos os doutores e falsos doutores e à Prof. Gina, sem a qual isto não teria sido possível.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Já não se escrevem cartas de Amor, de Mário Zambujal


«A certa altura, decidi que não poderia passar a noite parado como um legume, apelei à pouca coragem e disse para mim próprio: “Seja o que Deus e ela quiserem.” Avancei lesto para a mesa de Erika e, lá chegado, tomou-me uma sensação de fracasso inevitável, mesmo de ridículo. Balbuciei por fim: - A menina não quer dançar comigo, pois não?»


Duarte é um jovem bon vivant, que, entre as noites glamorosas passadas no Grande Casino Internacional do Estoril, as tardes de café no Chave D’Ouro, no Palladium ou no Martinho do Rossio e a vida boémia nas boîtes da capital, vê o seu coração ser arrebatado por uma jovem alta, esguia, loura e de sorriso luminoso, de nome Erika.

Mário Zambujal transporta-nos, nesta novela de prosa clara e original, pautada de humor, imaginação e sensibilidade, numa viagem de imagens e memórias, à Lisboa dos anos 50. Uma época de apetites e excessos. De paixões e desventuras. Era um tempo em que havia tempo. Até se escreviam cartas de amor.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Nem tudo começa com um beijo, de Jorge Araújo e Pedro Silva Pereira


Nem tudo começa com um beijo começa com um segredo que só mais tarde será revelado: “Gelatina aprendeu, por experiência própria, que o remorso ataca sobretudo à noite.” Gelatina (a personagem) esconde o seu segredo para proteger outra pessoa, e Fio Maravilha encontra o amor junto da Nuvem Maria.
Sim, os nomes não são os mais comuns, de todo. Temos o/a Gelatina, Bisnaga, Fio Maravilha, Molécula, Armando Pantera, Domingo, Nuvem Maria e mais.
Este livro apresenta “o mundo como sendo uma casa, que tem Cave e Sótão. A Cave são os buracos do esgoto que servem de tectos…aos meninos que não têm para onde ir. No Sótão fica a cidade. Nele vivem as pessoas que se cruzam nos elevadores, dizem ‘bom dia’ e ‘boa tarde’ mas não se conhecem.”.
Pelo meio mas talvez o mais importante, deparamo-nos com uma bela história de amor, daquelas que hoje já não encontramos. Uma história que não começa com um beijo mas com desenhos colocados debaixo de uma pedra sobre um banco à espera de uns cabelos loiros. “Os desenhos sempre acompanhados de um pensamento, de uma confissão. De uma declaração de amor.
O facto de a narrativa ser protagonizada por crianças e jovens em situação de risco num cenário desrealizante sublinham a importância do amor e dos afectos na vida humana.
O livro constitui uma leitura surpreendentemente cativante, capaz de prender o leitor até à última página.

Jorge Araújo e Pedro Silva Pereira foram autores galardoados com o prémio literatura Gulbenkian em 2003, com o livro Comandante Hussi.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Inês de Portugal, de João Aguiar


Castelo de Santarém, num dia do ano de Cristo de 1359. Enquanto el-rei D. Pedro I corre a caça pelos campos, os seus conselheiros Álvaro Pais e João Afonso Tello esperam com sombria ansiedade a chegada de dois prisioneiros, Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, dois dos «matadores»de Inês de Castro (o terceiro, Diogo Lopes Pacheco, logrou fugir e refugiou-se em França). A esses homens havia sido solenemente prometido perdão, mas o rei, decidido a vingar a única mulher que amou, quebrou o juramento feito, e agora eles vêm, debaixo de ferros, a caminho de Santarém.É este o ponto de partida de Inês de Portugal. Mas ao longo das suas páginas é toda a história de Pedro e Inês que João Aguiar reconstrói.


É pela voz de Álvaro Pais e João Afonso Tello que João Aguiar conta esta bem conhecida história do desenlace trágico dos amores de Pedro e Inês de Castro, a bela dama galega "que despois de ser morta foi Rainha", como cantou Camões.


"As recordações excitam-no, fazem-lhe subir o sangue mais depressa à cabeça, como se para lá se tivesse mudado o coração. Assim foi, assim foi, porém hoje D. Afonso já não reina em Portugal e as bestas-feras jazem na masmorra à minha mercê e haverá de novo justiça, porque um rei-fantasma a fará, sobre grandes e pequenos, ricos e pobres. Sobre os vivos e também os mortos. Roubaram-te de mim, Inês, mas não sabiam que assim mesmo te punham para sempre em mim. Para sempre, até ao fim do mundo."


in Inês de Portugal

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A vida nas palavras de Inês Tavares, de Alice Vieira


Que fazer quando se tem 13 anos, se pediu um i-pod pelo Natal e se recebe um diário? Aqui se relata - pelas palavras da própria - um ano da vida de Inês Tavares, com as suas melhores amigas (e dois amigos, porque os rapazes fazem sempre jeito para levar às festas...) e as suas grandes paixões: o chocolate e o Brad Pitt. Para além da paz no mundo, evidentemente.


Num estilo a que, desde o memorável Rosa, minha irmã Rosa (1979), Alice Vieira nos tem habituado, esta narrativa juvenil coloca, uma vez mais, em primeiro plano a voz e a vida interior de uma adolescente de 13 anos. Uma percepção singular do real, encarado ora com leveza, ora com seriedade, ora com humor, as vivências escolares e a família, com os seus membros “especiais à sua medida”, alimentam esta narrativa, que evidencia uma configuração autobiográfica e é composta a partir dos modelos ficcionais do diário (como, aliás, faz prever o divertido segmento subtitular “Diário de quem só quer a paz no mundo e o Brad Pitt”). As referências a elementos que caracterizam o nosso tempo (por exemplo, o “Simplex”) e que dominam o mundo dos adolescentes (por exemplo, a influência das séries televisivas) multiplicam-se e reforçam quer a componente humorística do discurso, decorrente, por vezes, de um certo tom caricatural, quer uma perspicaz crítica social.


in Casa da Leitura



terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Ilha, de Victoria Hislop


Numa altura em que a sua vida estava dominada por um dilema, Alexis Fielding sentia-se mais determinada do que nunca a levantar o véu de mistério que sempre encobriu o passado da sua mãe, Sofia. Alexis sabia apenas que Sofia tinha sido criada numa aldeia de Creta. Decidiu, então, fazer uma viagem até às ilhas gregas e, para sua surpresa, Sofia achou que estava na altura de ela saber mais acerca do passado. Antes de Alexis partir para a sua viagem, Sofia deu à filha uma carta para entregar a uma velha amiga, Fotini, e prometeu-lhe que através dela ficaria a saber muito mais...
Quando encontrou Fotini, Alexis ficou finalmente a conhecer a história que Sofia escondera toda a vida: a história de uma família dilacerada pela tragédia, pela guerra e pela paixão. Alexis descobre que está intimamente ligada a Spinalónga (uma ilha grega) e que o passado poderá ajudá-la a resolver o futuro...

Esse romance de vidas e paixões intensas desdobra-se no cenário do Mediterrâneo do início do século XX, passa pela Segunda Guerra Mundial e chega ao nosso tempo. A Ilha é uma história de desejos, de segredos desesperadamente escondidos e do estigma da lepra sobre quatro gerações de uma família.