quarta-feira, 23 de março de 2011

Carta a D. Luís sobre as vantagens de ser assassinado, de Fialho de Almeida

Ouvia, há dias, na rádio TSF, um programa sobre Fialho de Almeida e o entusiasmo dos intervenientes a respeito desta figura da literatura portuguesa do século XIX despertou-me a curiosidade.
Sabia que havia algures numa das estantes lá de casa, arrumados numa ordem (cromático-estética) que ninguém entende senão eu, dois ou três livros do autor. Com efeito, na última e mais vertiginosa prateleira lá descobri os Contos, Literatura Gagá e Carta a D. Luís sobre as vantagens de ser assassinado. Escusado será dizer que o espantoso e sugestivo título do último volume funcionou como um íman.
A ironia assassina, a imaginação delirante, a originalidade e inventividade linguísticas, o tom cómico e mordaz das descrições foram, ao longo de 36 páginas, um poderoso estímulo à gargalhada permanente.
Ora vejam o que diz o narrador a D. Luís:
"Oh meu senhor, habilite-se! Uma reles bomba que seja. (...) Não faça caso das precauções da medicina, venha à cidade repontar c'o Zé Povinho, chamar-nos tipos, dar canelões nas nossas mulheres - fazer enfim pelo tirázio enquanto é tempo. Nestas coisas de martírio, só a primeira abordagem custa um pouco. Que transtorno faria a V.M. um balázio, sabendo a ovação que abichava depois de morto?
Ah, que vida monótona tem sido a de V. M... jantarinhos de canja magra no quarto, violoncelo quando vão artistas de S. Carlos, e como hors-d'oeuvre, a pouca vergonhazinha extra matrimonial às quintas-feiras!... V. M. carece de sair quanto antes dessa apatia."
S. N.

Sem comentários: